Aí você cria seu
filho dizendo: “Come que nem homem moleque!”, “Não chora que
isso é coisa de menininha...”. E quando aparecem casos estrondosos
de feminicídio, desvalorização da mulher, machismo, homofobia,
você culpa “essa tal sociedade doente”.
Aí você diz para sua
filha: “Não come tanto assim, vai ficar gorda e feia!”, “Fecha
essa perna menina, vai parecer oferecida!”. E diz que a
supervalorização do corpo, o preconceito sobre o comportamento
feminino, a censura, o machismo desenfreado, é culpa somente da
imprensa, da entrevista daquele presidente, dos donos das agências
de modelo, ou de uma sociedade superficial desigual e preconceituosa.
Aí você compara todos
os sobrinhos naquele almoço de domingo, dando apelidos pejorativos:
o fraco, a enjoada, o engraçadinho, a bonita, o burro. E quando há
bullying nas escolas ou quando as pessoas crescem e não sabem lidar
com as diferenças, você culpa uma sociedade cruel e intolerante.
Aí você rotula todas
as suas amigas maiores de 40, porque usam minissaia ou shorts acima
do joelho como: “As sem noção”, “As que não se dão ao
respeito”, “As que não sabem se portar como as mulheres da sua
idade”, “fazendo papel de ridículas querendo parecer gatinhas”;
e reclama que a sociedade só valoriza a juventude, que não tem
espaço para as mulheres maduras, que há muita cobrança sobre seus
modos, seu corpo etc.
Aí você obriga o seu
filho a estudar “algo que dê dinheiro”, para que ele seja
“alguém na vida” e assim ele construa um futuro diferente ou
melhor do que o seu. E quando ele cresce e vira um adulto frustrado e
mal sucedido, você culpa a “eterna” crise econômica do país.
Aí você vive
acreditando que é um “cidadão de bem”, que contribui para um
mundo melhor e nem se dá conta de que é um agente fundamental, para
o fomento e a manutenção dessa “tal sociedade doente”,
superficial, injusta, preconceituosa, machista, feminicida,
homofóbica em que vivemos.
Não basta emitir sua
opinião política nas redes sociais em época de eleição. Ajude a
criar dias melhores dentro da sua própria casa. No seu trabalho e
nos lugares que frequenta. Reveja os valores que passa dentro da sua
própria família. Reveja seus princípios, e os ajuste às suas
próprias atitudes. Você verá que essa “tal sociedade doente”
irá melhorar sua “saúde” consideravelmente.
Observe que muito dessa
tal “política”que você cobra dos governantes, é completamente
o reflexo do que nós como grupo social e familiar geramos.
Quer mesmo fazer alguma
coisa? Para de culpar os outros, tome atitudes de fato sensatas na
vida e pare de reclamar. Quando as pessoas vão se dar conta de que
essa “tal sociedade doente”somos todos nós?
O caos em que vivemos é
o reflexo das nossas próprias criações. Seja responsável pelo seu
futuro. Nem todo mal é “consequência do destino”, mas sim o
resultado de suas próprias decisões e escolhas.
Pare de se vitimizar,
arregace as mangas, faça a diferença positiva no mundo.
E seja um criador do
bem, não um reflexo do mal!