domingo, 28 de fevereiro de 2010

MULHER MODERNA FAZ AULA DE BALLET?


Qual a menina que nunca teve vontade de fazer ballet? É como pintar as unhas, colocar saltos altos, passar batom. Faz parte do aprendizado de toda mulher (ou quase todas). – da minha época pelos menos!
Esta semana voltei a fazer aulas de ballet! Veio-me a mente então, como era aquela época, as doçuras e dissabores do momento. Lembro-me da correria para chegar às aulas – não podia chegar mais do que cinco ou dez minutos atrasada, senão, não entrava na sala – ia colocando a sapatilha no carro, prendendo o cabelo, ajeitando a meia (rosa!). Já ia fazendo o aquecimento – sendo assim, qual o problema de chegar um pouquinho atrasada? Já estaria aquecida mesmo...Até o pianista (sim, tinha um dentro de cada sala), olhava feio quando a gente se atrasava.
Durante quase todo o trajeto minha mãe ia me dando lições, de que tinha que respeitar os horários e blá, blá, blá .... conselhos úteis pra toda a vida; que aliás ouço até hoje. Existem coisas que nunca mudam! Neste caso, eu rsrsrsrs.
O convívio nem sempre agradável com algumas colegas de aula (algumas colegas faziam parte de uma espécie de clã protetor dos familiares dançarinos –nem sempre bons, que fazem parte da primeira fila de apresentação dos espetáculos. Ah- eram parentes dos dirigentes!), a “inocência” de uma época, quase tão cor de rosa quanto a cor da minha meia, pelo menos na minha cabeça eram parte fundamental do meu mundo.
A responsabilidade de fazer aulas ministradas pelo sistema Royal de avaliação (vinham professoras examinadoras da Inglaterra, sem falar quase nada em português, mas com olhar mais do que crítico para nos avaliar, e nos fazendo chegar a adjetivos inimagináveis ao nosso pequeno mundinho infanto-juvenil) nos tornava importantes e diferentes aos olhos dos demais.
Durante o exame para colação de grau, parece que até respirar era motivo pra perder ponto. “Respirou fora de hora, menos um ponto!”.... Ufa, que fase complicada. Não podia chegar atrasada, não podia relaxar a coluna, não podia rir alto, não podia perder o ritmo, não podia comer demais (é, porque bailarina gordinha só serve para tapar o fundo do teatro segurando uma árvore cenográfica bem grande!). Não podia isso, não podia aquilo....Meu Deus!!!...
Fico imaginando nos dias de hoje, esse monte de mulheres “maduras” com línguas afiadas, discutindo com as examinadoras durante a hora do exame. Todas despejando suas carências infantis em ritmo “acelerado” demais para o contexto. Se tivesse que escolher uma trilha sonora nesta hora, seria mais apropriado tocar um funk com MC Leozinho ao invés das melodias clássicas e tradicionais, lentas demais para o raciocínio disparado das mulheres de meia idade em resgate do sonho perdido...
Na verdade, a disciplina, a necessidade de auto-superação, a sensibilidade, postura, adquiridas durante as aulas de ballet clássico, são características que levamos pra toda vida! Talvez por isso tenha voltado. Para resgatar alguma poesia que existia dentro de mim, mais forte do que há hoje. Perder alguns anos, reduzir algumas rugas (não que eu tenha – isso é prevenção).
Ótimo, comprei a roupa apropriada, meia, sapatilha, colã... sainha rodadinha??? Pois é, eu confesso que colocar aquele colã, com a sainha sobreposta, me causou certo constrangimento, mas, como tudo vale em nome da arte e da dança... lá estou eu. Fantasiada para os blocos das ex-rebeldes sem causa, das “pré-menopausa” em fase de auto-afirmação. Confesso que me senti um pouco esquisita, meio abobada, sei lá. Mas quando começou a tocar as músicas e iniciei a aula, foi como se nunca tivesse parado. Me senti íntima, próxima, e feliz!
Por isso aconselho a todos que tenham deixado algo para trás, que faça falta nos dias de hoje, que recuperem. Nunca é tarde para a gente resgatar sentimentos do passado, e retomar emoções que descobrimos, nunca saíram de dentro da gente! Jogue amarelinha, pule elástico (uno um, uno dois, uno três, zig zag zig zag ), compre o Banco Imobiliário. Faça mímica, cole chiclete no cabelo do “coleguinha” (se ele ainda tiver! Quer dizer, não isso não, é péssimo).
Não deixem as dificuldades do dia a dia, encobrirem certas sensações, criando uma casca para nos proteger das adversidades, nos tornando um pouco ranzinzas demais. Descrentes, de certa forma, insensíveis...
Pagar mico? Faz parte... já dizia Kleber Bambam* (em tempos de Big Brother é sempre bom se mostrar atualizada!) O importante mesmo, é ser feliz! Quem nunca balançou os pés ao ouvir Balão Mágico, ou cantou Ursinho Pimpão para ver o filho sorrir, que atire a primeira pedra!

*Kleber Bambam foi o vencedor do BBB X, e próximo de embolsar um milhão de reais quando perguntado se não fosse ele o vencedor como se sentiria ele disse “-Faz parte!” Acrescento que estava de mãos dadas a uma boneca de metal remendado de nome Maria Eugênia que o acompanha até os dias de hoje.