sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Toda forma de amor vale a pena?



Toda forma de amor vale a pena?

Dizem que toda forma de amor vale a pena. Concordo que, se tiver que existir algum sentimento, que seja amor. Mas será que o amor não está sendo deturpado, confundido, ou até sendo usado como desculpa como forma de nos inocentar, isentar ou justificar por alguns erros cometidos?
Hoje em dia se mata “por amor”, se violenta “por amor”, se destrói “por amor”. É o namorado que mata a “amada” porque levou um fora. É o padrasto que mata o enteado pelo “amor” não correspondido da ex-mulher. É mãe que abandona filho por “amor” ao novo namorado. É homem que suicida “por amor” a Deus. Tantas coisas. Se isso tudo é amor, o que será ódio, revolta, perdição, desespero?
Tem gente ainda que comete equívocos ainda maiores justificando a falta de amor! Se em nome do amor se faz coisas absurdas, imagina na ausência dele, o que ser humano é capaz de fazer?
Matar os pais em troca de herança, raptar crianças inocentes em troca de resgate, atirar nos colegas de classe porque não teve a atenção desejada e por aí a fora.
Só que as situações não se originam nesta gravidade, de uma hora para outra. Tanto por excesso de amor, como pela falta dele, o excesso ou ausência do sentimento, vai se agravando aos poucos, dia após dia. E é importante que tenhamos essa consciência, este senso de responsabilidade.
Nós como sociedade somos parte responsável quando contribuímos para o crescimento do preconceito, do chamado “bulling” mesmo inconsciente. Quando implantamos dogmas de forma tão severa que ao invés de ensinar, cria a distância do amor divino. Quando sonegamos sentimentos ao invés de sermos sinceros. Quando mascaramos as dificuldades de um convívio comum ao invés de tentarmos lidar com as diferenças.
E nós como pais, temos um papel maior ainda. Porque somos responsáveis proporcionalmente, pela formação de uma nova sociedade. Somos responsáveis por repassar “valores” equivocados, que segregam e não unem que punem e não corrigem que tolhem e não auxiliam no desenvolvimento.
Os filhos são machistas, porque as próprias mães muitas vezes são machistas. As filhas são inseguras como mulher, porque muitas vezes, o próprio pai as coloca em condição de desigualdade dentro da sociedade. E vice-versa.
O medo da violência, das dificuldades do dia-a-dia, da competitividade, das modernidades que incluem variações sexuais, de ideologia e comportamento social e no trabalho, assusta claro! Mas camuflar ou rejeitar a sua existência não vai resolver o problema, pelo contrário. Enxergar a realidade e tentar lidar com ela de forma tolerante e real, não quer dizer que concordamos com tudo o que está sendo feito ou dito por aí.
Um ser humano esclarecido tem habilidade para lidar melhor com as diferenças que vão aparecer, e certamente, terá base para saber dizer os nãos necessários que a vida o obrigará a definir. Quanto maior o preconceito, maior a solidão. E quanto maior a ignorância, maior as chances de escolhermos um caminho ruim.
Toda a forma de amor deveria valer a pena. Desde que fosse realmente amor e não um outro sentimento qualquer disfarçado; que incrimina, destrói, puni, traz promiscuidade, vingança, dor.
Se de forma sincera, real, e responsável, toda a forma de amor sim deveria valer a pena, é como disse Vinícius de Moraes: “De tudo, ao meu amor serei atento antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto que mesmo em face do maior encanto, dele se encante mais meu pensamento... Eu possa lhe dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure”.