Toda forma de amor
vale a pena?
Dizem que toda forma de amor vale a pena. Concordo que, se tiver que existir algum sentimento, que seja amor. Mas será que o amor não está sendo deturpado, confundido, ou até sendo usado como desculpa como forma de nos inocentar, isentar ou justificar por alguns erros cometidos?
Hoje
em dia se mata “por amor”, se violenta “por amor”, se destrói “por amor”. É o
namorado que mata a “amada” porque levou um fora. É o padrasto que mata o
enteado pelo “amor” não correspondido da ex-mulher. É mãe que abandona filho por
“amor” ao novo namorado. É homem que suicida “por amor” a Deus. Tantas coisas.
Se isso tudo é amor, o que será ódio, revolta, perdição, desespero?
Tem
gente ainda que comete equívocos ainda maiores justificando a
falta de amor! Se em nome do amor
se faz coisas absurdas, imagina na ausência dele, o que ser humano é capaz de
fazer?
Matar
os pais em troca de herança, raptar crianças inocentes em troca de resgate,
atirar nos colegas de classe porque não teve a atenção desejada e por aí a
fora.
Só
que as situações não se originam nesta gravidade, de uma hora para outra. Tanto
por excesso de amor, como pela falta dele, o excesso ou ausência do sentimento,
vai se agravando aos poucos, dia após dia. E é importante que tenhamos essa
consciência, este senso de responsabilidade.
Nós
como sociedade somos parte responsável quando contribuímos para o crescimento
do preconceito, do chamado “bulling” mesmo inconsciente. Quando implantamos
dogmas de forma tão severa que ao invés de ensinar, cria a distância do amor
divino. Quando sonegamos sentimentos ao invés de sermos sinceros. Quando
mascaramos as dificuldades de um convívio comum ao invés de tentarmos lidar com
as diferenças.
E
nós como pais, temos um papel maior ainda. Porque somos responsáveis
proporcionalmente, pela formação de uma nova sociedade. Somos responsáveis por
repassar “valores” equivocados, que segregam e não unem que punem e não
corrigem que tolhem e não auxiliam no desenvolvimento.
Os
filhos são machistas, porque as próprias mães muitas vezes são machistas. As
filhas são inseguras como mulher, porque muitas vezes, o próprio pai as coloca
em condição de desigualdade dentro da sociedade. E vice-versa.
O
medo da violência, das dificuldades do dia-a-dia, da competitividade, das
modernidades que incluem variações sexuais, de ideologia e comportamento social
e no trabalho, assusta claro! Mas camuflar ou rejeitar a sua existência não vai
resolver o problema, pelo contrário. Enxergar a realidade e tentar lidar com
ela de forma tolerante e real, não quer dizer que concordamos com tudo o que
está sendo feito ou dito por aí.
Um
ser humano esclarecido tem habilidade para lidar melhor com as diferenças que
vão aparecer, e certamente, terá base para saber dizer os nãos necessários que
a vida o obrigará a definir. Quanto maior o preconceito, maior a solidão. E
quanto maior a ignorância, maior as chances de escolhermos um caminho ruim.
Toda
a forma de amor deveria valer a pena. Desde que fosse realmente amor e não um
outro sentimento qualquer disfarçado; que incrimina, destrói, puni, traz
promiscuidade, vingança, dor.
Se
de forma sincera, real, e responsável, toda a forma de amor sim deveria valer a
pena, é como disse Vinícius de Moraes: “De tudo, ao meu amor serei
atento antes, e com tal
zelo, e sempre, e tanto que mesmo em face do maior encanto, dele se encante mais meu
pensamento... Eu possa lhe dizer do amor (que tive): Que não
seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure”.
Mas que seja infinito enquanto dure”.