Uma casinha branca, com varanda... Paz, paz?
Quem nunca desejou “fugir” do stress do dia a dia e ir para
o meio do mato, como naquela música “... ter uma casinha branca com varanda, um
quintal e uma janela, só pra ver o sol nascer...” algo assim?
Respirar ar puro, ouvir o barulho dos pássaros, ficar em
silêncio. Apreciar a paisagem das matas, sentir o cheiro da natureza bem
próxima a nós... Sem dúvida que este contato faz bem, renova as forças, nos
aproxima de Deus.
Mas à medida que a tarde vem chegando, os insetos mais
enlouquecidos, vindos em carreata de Marte ou algum lugar parecido, cheios de
asas e “aromas” não muito agradáveis se aproximam, nos “obrigando” a fechar “todas”
as portas e janelas, (todas mesmo!) máscaras de oxigênio são derrubadas do
teto, e começamos a repensar. E o que dizer do barulhinho daquele ventinho
“gostoso” do interior, que balança todas as janelas tão “bem pregadas”, com
frestas enormes que nos fazem questionar sua funcionalidade inicial, nos colocando
em contato direto com nosso “imaginário mais assustador”? As luzes
refletindo... luzes, luzes? Quer dizer a penumbra “agradável” refletindo o mato
cerrado, em meio a todas aquelas árvores, com aqueles bichinhos de tantas
espécies... o que parecia relaxante, como em um passe de mágica transforma-se
num filme de suspense, e em um único minuto, todos os músculos do nosso corpo,
tão relaxado até então, contraem-se involuntariamente, nos fazendo sentir como
se estivéssemos no meio do trânsito de uma cidade como São Paulo.
De repente, “me repreendo” com os olhos arregalados, como
quem procura... O Curupira (como diz meu filho!). Cada sombra é uma ilusão de
ótica, cada zumbido, um contato com o além... Ai natureza, tudo tão lindo,
relaxante mesmo não é?
Exagero para uns, compreensivo para outros, discussões a
parte, o importante é percebermos que a paz não está vinculada a uma paisagem
ou outra. Esperei tanto por este momento de estar em contato “direto” com a
natureza para me sentir mais calma e quando tenho a oportunidade... Percebi que
esta tão buscada paz é resultado de uma série de comportamentos, e muito mais,
pensamentos, que não estão necessariamente relacionados a um lugar ou outro, a
não ser dentro de nós mesmos.
E como fazer para realmente encontrá-la, agarrá-la, não
deixá-la escapar?
Já pararam para pensar que estamos constantemente sendo
desafiados a nos superar, transpor dificuldades, saber lidar com questões que
de uma forma ou de outra, tentamos abafar, distanciar, isolar dentro da nossa
alma?
Na verdade sempre esperamos uma “situação ideal” para
iniciar um movimento, uma mudança, uma superação, e no fundo não percebemos que
a vida sempre nos levará aos mesmos caminhos, até que tenhamos força para
transpor aquela dificuldade. É assim, faz parte do aprendizado, da missão, do
sentido de se estar vivo. Ignorar estes sinais é uma forma imatura de se fechar
para vida. Não admitir alguma limitação não a reduz, ao contrário, a torna mais
evidente, mais grave, mais profunda. Temos que aprender a lidar com nossos
medos, frustrações e dissabores. E a partir daí, tentar superá-los.
Quando a vida nos coloca algumas situações recorrentes na
frente, talvez seja um alerta, como quem diz: “Acorda! Você precisa vencer esta
etapa para subir o próximo degrau...” Precisamos estar prontos para receber a
próxima “missão”. Enquanto existe vida, existe um caminho a cumprir, é o preço!
Vamos “jogando fora” sentimentos inúteis, invasivos,
destrutivos, e com o que “sobra”, juntamos os caquinhos e construímos algo
“inesperado” com nossos sentimentos. Pode ser muito bom, mas pode ser
frustrante também.
No fim, o que nos tornamos acaba sendo o resultado da “subtração
de tudo o que não gostaríamos de ser”. É também uma forma de superação. Porque
não? Mas será o bastante?
Neste início de novo ano, onde grande parte de nossos
pensamentos, anseios e ambições vêem a tona, reflexões como esta são muito
comuns. O que as farão ser diferentes ou não, é a maneira como aprendemos a
lidar com elas.
As dificuldades sempre existirão, as situações
desagradáveis, até desesperadoras. Mas se pensarmos que como em uma casa
varandada no topo do morro, a maior parte dos “fantasmas” realmente são
imaginários, quem sabe grande parte do nosso sofrimento e agonia cotidiana
também não o sejam?
As janelas sempre vão balançar quando existe vento. A sombra
sempre existirá à meia luz. Os animais sempre estarão na nossa volta, na
cidade, no campo, onde for. Não podemos nos deixar abater pelo que nos assusta.
Melhor é considerarmos o canto dos passarinhos, o cheiro confortante das matas
molhadas ao amanhecer, o silêncio que preenche a nossa alma e nos põe em
contato direto com Deus...
Tudo é uma questão de ponto de vista. Escolha o mais bonito
e seja feliz!
Ai natureza, uma casinha no topo do morro, os pássaros
cantando, existe coisa melhor?!