Há alguns dias adquiri o hábito de caminhar no parque.
Exercita o corpo, beneficia a alma, alivia as tensões, enrijece os músculos.
Caminhando pelo parque pude observar as variações de pessoas
que lá frequentam, e cheguei à conclusão de que “existem um bando de loucos”,
sem querer fazer trocadilho ou alusão a nenhuma torcida de futebol.
Vou dar alguns exemplos: todo dia tem um homem aparentando uns
45 anos que caminha falando ao celular, falando não, gritando ao celular. Umas
conversas estranhas sobre paranoia, agrotóxico, umas “paradas sinistras” de
quando se está em abstinência de alguma coisa que até o momento acredito eu não
seja algo lícito pelo tom da conversa que ele desenvolve. Ele vai passando, as
pessoas vão se cutucando, uns ficam com medo, outros dão risada, e quando ele
não vai certamente o ambiente perde um pouco a animação.
Sem falar na quantidade de pessoas alcoolizadas e
transeuntes que acabam passeando por lá. Às vezes me pergunto se entraram no
parque por acaso, ou se há alguma adega clandestina escondida sob alguma árvore
frutífera daquelas enormes? Certa vez vi um homem alcoolizado vestido com calça
jeans e camisa social, correndo, trançando as pernas... Ele foi tropeçando,
tropeçando, até que caiu no chão e se ralou todinho. Fico me perguntando, será
que ele estava em horário de almoço, bebeu demais e resolveu dar uma corridinha
acreditando que o álcool iria evaporar rapidamente através do seu suor?
Melhor é ver a senhorinha de meia idade que veste o body
florido da filha mais velha e vai toda “justinha” passear na floresta. Bom
mesmo é observar os garotos magrinhos com seus possantes skates que fazem
manobras radicais e assustam os velhinhos que passeiam com suas enfermeiras
“pacientes”.
Bom é sorrir com o gordinho que anda 500 metros e para logo
pra tomar um sorvete, e ver a magrinha que se acha gorda dar tantas voltas no
parque que chega a amolecer as pernas de tanta fraqueza. O lago cheio de
patinhos, o cheiro das árvores que balançam com o movimento do vento, os caminhões
cheios de entulho que mesmo no meio daquela natureza toda, nos fazem lembrar
que lá fora, o mundo não pára.
É... Passear no parque não é somente uma forma de exercitar
o corpo, brincadeiras a parte, olhar para o lado e enxergar as pessoas a nossa
volta, é uma forma sensacional de exercitar o senso comum, a tolerância, a
paciência, o preconceito, a caridade. Muito provavelmente estes mesmos tipos de
pessoas “passem” pelo nosso caminho diversas vezes por dia, mas não percebemos
porque estamos ocupados demais com nossos próprios devaneios. Faz bem perceber
que o mundo é feito de vários tipos de pessoas, de várias classes sociais, com
hábitos diferentes, mas que podem conviver em um mesmo ambiente se houver uma
palavrinha mágica chamada respeito.
No fim o que importa não é a forma como as pessoas se
apresentam, mas a maneira como olhamos para as pessoas que se apresentam no
nosso caminho. Se seu olhar for solidário, generoso, despretensioso qualquer dia
da sua vida pode ser como um belo passeio no parque. Basta exercitar...